Germano Altamirano
DIA 29 DE JUNHO DE 2004
(Quarta-Feira)
MADRUGADA TRISTE
São 4:25 da madrugada do dia 29 de Junho de 2004, quando eu subtamente acordei, e havia lágrimas escorrendo no canto dos meus olhos.
Eu me dei conta que estava pensando em ti, PAI!
Uma dor forte apertava o meu peito e abraçava o meu coração enquanto na madrugada, apenas o tic-tac do relógio eu escutava.
Não me contive e os pensamentos inquietantes e as lembranças de você veio a tomar conta de meu ser interior que se definhava pouco a pouco a cobria o meu ser exterior.
Eu passei a pensar como você é importante na minha vida, PAI, e o quanto você é responsável por minha existência. Lembrei-me de quando eu era pequeno, você sempre alegrava o ambiente com suas piadas.
Quantos momentos nós dois passamos juntos, PAI!
Lembrei-me da nossa pescaria, do grande peixe "cará-testudo" que eu pesquei com uma pequena varinha feita de galho de árvore com uma linha de barbante e um arame entortado amarrado na ponta da linha, no formato de um anzol. Aguele foi o nosso jantar naquela noite. Que ironia, eu ao lado de um mestre na pescaria.
Eu fiquei orgulhoso de só eu ter pescado aquele enorme peixe que alimentou a todos em casa. Nós dávamos risadas por achar que ninguém acreditaria que eu, um menino de apenas uns 7 anos de idade conseguiu pescar aquele enorme peixe, e você, o meu grande mestre foi naquele dia para casa de mãos vazias, mas feliz e também orgulhoso do seu filho, um futuro pescador e que sempre foi muito parecido com você desde pequeno. Afinal, filho de peixe, peixinho é! E filho de pai pescador pescador é. E eu, PAI, aprendi direitinho as lições de pescaria que você me ensinou.
Há! Quanto sacrifício para trazer o leite para as crianças!!!, Como pedreiro, quantas marretadas no dedo você levou!!! Quantos cortes e quantos machucados você sofreu para dar a nós um pouco de conforto.
Não, não dá para esquecer o quanto você representa na minha formação como ser humano.
É uma pena que o relógio do tempo não retrocede, senão, meu velho, eu pescaria muito mais ao teu lado, eu escutaria muito mais vezes as suas piadas mesmo repetitivas, e ainda assim, riria de todas elas, porque era você quem as estava contando.
Uma coisa você dizia e repetia: "Um pai cuida de 10 filhos, mas, 10 filhos não cuida de um pai".
É verdade, PAI! Hoje eu vejo, quão sábias são essas palavras.
Eu gostaria de ter muito dinheiro hoje, para dar-te um mínimo de conforto que você me deu quando pequeno. Gostaria de poder te abraçar forte e te dizer o quanto eu te amo, PAI!!!
Quando me dizem que eu sou parecido contigo até no jeito de andar, eu me sinto orgulhoso, você nem imagina!. Você foi meu companheiro de pesca. Repeti muitas e muitas vezes as suas piadas e ria ao mesmo tempo que me lembrava do seu jeito de contá-las.
Você não foi muito próximo como pai, mas eu sei que você nos amava. Era o seu jeito de demonstrar amor, era o seu jeitão de dizer que se preocupava com a gente.
Muitas vezes eu te pegava pensativo e distante, encostado na hombreira da porta, com um cigarro aceso apontando para o céu, enquanto você viajava com suas lembranças inquietantes, talvez, porque não dizer, com suas desilusões, suas decepções ou seus sonhos inalcansáveis.
Todos nós cometemos erros na vida PAI, e você, é certo que cometeu os seus, e com certeza não foram poucos. Mas, o importante é que você sempre trabalhou honestamente e nos deu o seu melhor, nos deu exemplo de humildade, dignidade e honra. Os seus erros, não te tira o brilho de PAI, de provedor excelente que foi, de homem trabalhador e responsável. Hoje eu penso e lembro de ti, não pelos seus erros, mas por quantas coisas boas que eu aprendi de você. Eu te devo muito meu velho...eu te devo muito....TE DEVO A VIDA, PAI!!!
Como poderei te recompensar pela vida que você me deu PAI? Você me sustentou e me criou até que eu estivesse pronto para o mundo, pronto pra voar.
Como e com que eu poderei retribuir tudo o que fizeste por mim?
Há! meu velho!!! agora debilitado...faria tudo, daria tudo para verte animado e feliz, dançando, sapateando, tocando a sua sanfona e contando as suas piadas novamente!!!
São mil quilômetros que nos separa PAI, mas o meu coração está ao teu lado, aflito, mas ao teu lado.
Somente Deus sabe o desejo que eu tenho de estar perto de ti neste momento, meu velho!
Momentos de angustia e solidão que só passariam se eu pudesse te dar um longo e forte abraço.
O relógio na parede continua fazendo tic-tac e eu aqui escrevendo os meus sentimentos mais profundos e secretos com relação ao meu pai, meu amigo, meu professor, meu mestre, meu velho., enquanto todos em minha volta estão dormindo profundamente, e nem imaginam a minha angústia, enquanto lágrimas escorrem dos meus olhos com um gosto amargo de tristeza.
Se eu tivesse dinheiro eu pagaria alguém para ficar ao seu lado 24horas, cuidando de você, cuidando da sua recuperação para que ao menos pudesses caminhar, falar e pescar, que era a coisa de que você mais gostava.
Eu acredito que a pesca era um refúgio dos seus problemas, porque, embora você se realizasse com os seus troféus de pescaria, tinha momentos e lugares que você passava horas e horas sem pescar um só peixe. e ali você pensava na vida, fazia uma retrospectiva da sua história e imaginava o que seria do seu futuro.
Não posso te ajudar mais do que gostaria, porque o maldito dinheiro está longe de mim e eu estou distante literalmente cerca de 1000 quilómetros. Como teria sido muito mais fácil se todos estivessem unidos em fazer algo por ti, mas o egoismo, a rivalidade, a inveja, a mentira, o rancor e até mesmo o ódio e a falsidade é o que prodomina entre os irmãos, que ficam divididos cada um no seu mundo egoista, individualista e alienado.
Nem você, PAI, que é o nosso elo, conseguiu nos unir. Eu sinto, que quando você partir, o que é apenas uma distância hoje entre os irmãos, se tornará um abismo amanhã, infinitamente inalcansável.
O remorso dos que te abandonaram baterá no coração, ou talvez não, mas não causará nenhum efeito, pois, esquecerão de que não fizeram nada por ti em vida e que não sobrara nenhuma gota de lágrimas para ti quando você se for, meu velho.
Infelizmente a sua situação hoje, é o resultado da neligência e do esquecimento daqueles que você também deu a vida e que agora fazem tão pouco por ti e alguns, não fazem simplesmente nada, nem mesmo em retribuição a vida que lhes deste. Alguns não fazem nada, não porque não podem fazer, mas simplesmente porque não querem fazer, ou, estão ocupados demais com suas próprias vidas e seus afazeres que não têm tempo para fazer alguma coisa. Quem pensa que faz, faz tão pouco que seria como que se não tivesse feito ou, os que estão fazendo, fazem apenas para descargo de consciência.
Há!!! se houvesse união entre os irmãos..tenho certeza que as coisas seriam bem diferentes, porque, com arranjo, toda a semana, estaria alguém ao teu lado, se importando realmente com você, não apenas levando uma simples cesta-básica como que por obrigação, mas se preocupando sinceramente com você, com a sua saúde e recuperação.
Nunca passou pela cabeça de um desses, que não é só de cesta-básica que você vive? Será que uma pequena compra no supermercado recuperará os seus movimentos, a sua fala, a sua saúde?
O que muitos não lembram é que você PAI, não é apenas mais um que padece de necessidade neste mundo e que precisa de mantimento, pagar luz, água, gás, remédio ou um ato de caridade, mas que você é o PAI deles e precisa de uma sincera demonstração de amor, de afeto e de carinho. Você apenas quer se sentir amado e protegido como fez com a gente quando éramos criança. E agora, meu velho, você também necessita desse mesmo tratamento, porque a criança aqui agora é você, desamparada, entregue ao descaso, entregue ao destino cruel e sombrio da morte que ronda a sua vida.
Infelizmente a distância e a falta de recursos finalmente me limita bastante, mas quero estar ao teu lado em breve e ficar com você o tempo que for preciso, para que você sinta que alguém te ama muito, e que deseja que se recupere. E eu farei de tudo para que isso aconteça.
Já sei e sinto dentro de mim, que você não terá muito tempo para estar ao meu lado, mas quero aproveitar cada momento perto de você para te dar amor e carinho.
É o mínimo que posso fazer por você, que fez tanto por mim e me deu tantas coisas boas, que é impossível descrevê-las.
Muitas coisas suas eu tenho orgulho de carregar comigo, além da aparência física e do jeito de andar. É a sua personalidade e o seu senso de humor, que até nas horas difíceis estava rindo e contando piadas. Essa é uma das suas características que eu levarei comigo até na hora da minha morte.
Mas tem outra coisa que eu também carrego comigo com muito orgulho, é o seu sobrenome "ALTAMIRANO". Este eu utilizo em sua homenagem PAI.
Sempre serei o filho do Germano para os conhecidos e Altamirano para os desconhecidos, a fim de que se perpetue o teu sobrenome, este sobrenome que você transmitiu para mim e que eu, com muito orgulho e carinho transmiti a minha filha, para que ela lembre que você foi tão importante para mim, como eu sou para ela.
ALTAMIRANO, para alguns é o meu nome, para outros é o meu sobrenome. Não importa! Para mim é, e sempre será, a minha verdadeira identidade, o meu mais profundo "EU", enquanto viver.
TE AMO PAI, e sinto saudades, muitas saudades.
São
6:15 da madrugada, vou tentar dormir um pouco.
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07 de Novembro de 2006 - O DIA DE.
Depois que eu escrevi este texto, continuei com dificuldades financeiras para ir a São Paulo ver meu pai. Esperava em Deus que no final do ano eu conseguisse viajar. Passou Dezembro de 2004. Passaram mais um ano e durante o ano de 2005 eu continuei com dificuldades financeiras. Novamente chegou o mês de Dezembro de 2005, época que todos viajam de férias e eu aqui neste distante Paraná sem condições de ver meu pai.
O meu coração ficava cada dia, cada mês, cada ano mai apertado e desesperado sentindo que o seu tempo estava se esgotando.
Chegou o ano de 2006 e até o meio desse ano eu ainda não havia conseguido dinheiro para viajar. Prometi a Deus que no final do ano de 2006 eu viajaria a São Paulo a fim de ficar ao lado do meu PAI para cuidar de todas as suas necessidades e com esperança de sair novamente com ele para levá-lo a pescar.
Já era
Novembro de 2006 e o meu coração estava cada vêz mais aflito, porque até então eu não havia conseguido guardar dinheiro. Fiquei com medo de que mais um ano se passasse sem eu poder ver o meu PAI.
No dia
07 de Novembro de 2006, meu PAI não aguentou o sofrimento e veio a falecer.
Angustiado com a notícia, precisava a todo custo ver o meu pai pela última vez e dar-lhe um beijo de despedida. Acabei entrando em desespero e comprei uma passagem de avião apenas de ida a São Paulo a fim de poder dar um último adeus a meu amado PAI.
Foi o dia mais triste da minha vida.
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UMA ESPERANÇA QUE NÃO MORRE.
"PAI, sei que a morte é triste e causa muita dor para quem fica, mas, sei também que você descansou de uma vida cheia de dor, angústia e sofrimento, e está agora, como diz a Bíblia: 'dormindo um profundo sono'.
Anseio o dia e a hora em que Jeová, o nosso amoroso Deus e Pai, no futuro te despertará desse profundo sono, abrirá os seus olhos e nós nos encontraremos novamente, aqui mesmo nessa terra já transformada num paraíso, livre de sofrimento, tristeza e morte, ocasião em que, se for da vontade do Criador, você será ressucitado juntamente com o seu filho Henrique, meu querido irmão que também tinha essa mesma esperança, e eu poderei dar um forte, longo e carinhoso abraço, a tí e ao meu irmão, ocasião em que ficaremos juntos, por toda a eternidade. E que assim seja. Amém e Amém Pai!"
De seu filho que te amará eternamente,
Ariovaldo Altamirano
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O IMPULSO PARA CURSAR FACULDADE DE DIREITO
Tudo isso que aconteceu com o meu pai me incentivou a fazer algo: estudar DIREITO.
Sim, vendo a dificuldade que o meu pai sofreu em conseguir um benefício do INSS por não poder mais trabalhar e sabendo que o meu irmão como advogado nada fez por ele é que eu decidi cursar a faculdade de Direito. Por outro lado, um outro motivo é que eu sempre sofri ao ver as injustiças das pessoas e o desejo de ajudá-las também me deu impulso para cursar a faculdade.
Sabendo que o acesso ao judiciário é restrito apenas aos advogados, pensei que me tornando advogado poderia ajudar mais os sinceramente necessitados que estão à mercé de lobos devoradores e carniceiros, pessoas iníquas que vivem apenas para prejudicar os outros. E infelizmente muitos advogados vivem às custas de defender estes carniceiros, que na minha opnião, não passam de advogados do Diabo.
Meu irmão "Advogado" disse certa ocasião que não advogaria para parentes e isto me chocou. Eu já pensei ao contrário, que se um parente meu estivesse realmente precisando de ajuda judicial eu o socorreria sim.
Se eu faria isso para um estranho, porque não fazer isso para um parente?
Da mesma forma que orientaria um estranho eu orientaria um parente sobre as chanses e os riscos de entrar com tal ação.
Respeito a opnião do meu irmão, mas acredito não ser difícil separar o joio do trigo entre os parentes. Se eu fosse advogado na época, teria feito muito mais pelo meu pai, como por exemplo, ter garantido o benefício para ele muito antes e, não no fim da sua miserável vida.
Hoje, já formado, tive a alegria de conseguir aposentar ou garantir um benefício para o meu sobrinho por sofrer de um pouco de retardo mental, isso para mim foi um grande troféu.
Enfím, dedico o meu curso de Direito e todas as futuras ações que eu ganhar no futuro ao meu inesquecível pai.
Por ele eu lutei 5 anos na faculdade com um objetivo em mente e com apenas um foco...concluir minha faculdade de DIREITO. E graças a Deus, eu consegui. Em Junho de 2009 me formei e peguei o meu canudo, agora com muito orgulho eu digo: SOU UM BACHAREL EM DIREITO graças a Deus e ao meu Pai, GERMANO ALTAMIRANO.
"Enquanto existir força de vida dentro de mim eu não desistirei de lutar". Altamirano
